O pão de cada dia e o sorvete do Bob’s
30 de Julho/Sexta Feira

Três acontecimentos ocorridos nos últimos me fizeram lembrar de algumas coisas.

Sentada na rodoviária de São Paulo, esperando o ônibus que me devolveria à Viçosa, tive vontade de tomar sorvete. Fui ao caixa do Bob’s (Parêntese: Amo muito tudo isso! – o slogan do concorrente é de propósito) pedi um Bob’s Cascão e uma água. Sentei-me e saboreei.

Hoje de manhã, já em Viçosa, depois de dormir apenas 4 horas e pouco, sai às pressas para o trabalho. Quando percebi que a carona que me impediria de pisar no barro estava em risco, entrei no ônibus e fui até a universidade. Tive fome. Parei na lanchonete do DCE e pedi um pingado e um pão de queijo. Saboreei enquanto esperava minha carona.

Pode ser que nada até aqui tenha sido significativo para você. Agradeça. Mas, eu, Tábata, nem sempre tive dinheiro para pegar ônibus, comer ou tomar um sorvete.

Eu tenho refletido ultimamente sobre salário justo. Eu recebo um salário muito aquém do valor de mercado e aceitei a proposta e optei por ter consciência de que eu dependeria de Deus para qualquer coisa que não fosse o básico. Recentemente tive que fazer uma proposta de salário e não poderia partir do meu atual salário como referência, se não a injustiça continuaria. Mandei e-mails para colegas, professores e procurei ofertas de emprego para o mesmo cargo ou similar na região em que vou trabalhar. Os valores mínimos eram três vezes o meu salário atual.

A princípio eu tive a sensação de que meu salário era muito injusto. Depois me lembrei que meu dom cumpriria seu dever de abençoar mesmo que eu trabalhasse de graça e fosse sustentada pelo maná diário. Não sei se você conseguiu entender, mas eu tive uma crise entre trabalho-missionário e trabalho-operário. Entenda-se por trabalho-missionário algo diferente de missão ou vocação missionária e como algo que ~eu não sei explicar muito bem. Eu sei que sou digna do meu salário. Considero-me capaz de fazer o que faço e isso é bom. Nunca separei minha vocação, o fato de eu ser cristã, do fato de eu necessitar de um trabalho e querer viajar nas férias. Mas, de repente, passou pela minha cabeça que seria injusto eu cobrar pelo meu trabalho.

Engraçado, porém assustador.

Lembrar-me que eu nem sempre tive dinheiro para atender minhas necessidades – e isso não é há muito tempo não, mas há três anos – e que muitas vezes eu tive todas as minhas necessidades supridas e tive vontade de comer chocolate ou tomar sorvete e não tive condições… ah, a mémória… ela me traz esperança.

Quando eu subi no ônibus eu agradeci a Deus por ter R$1,5, quando eu comprei um pingado e pão de queijo, agradeci por ter R$1,85. Não é força de expressão, eu agradeci. Eu me lembrei que tudo vem da mão de Deus e que é ele que me sustenta. Lembrei-me que não trabalhei pelos meus móveis, meu computador ou minha moto e que meu salário – alto ou baixo – não me impediu ou possibilitou de ter essas coisas. Lembrei-me que milagrosamente eu consegui dividir meu salário com uma pessoa com mais necessidade que eu e comi chocolate durante todos aqueles meses. Eu tive certeza que Deus vai me sustentar e me abençoar e, se ele quiser, vai fazer sobrar para que eu abençoe outras pessoas.

Minha proposta salarial não chegou ao triplo do meu salário atual, nem ao preço de mercado e nem mesmo ao valor de salários em ONGs (segundo pesquisa recente de uma ONG amiga). Fiz uma conta com base no piso de jornalista. Achei justo. Justo para mim e justo para a organização que vai me contratar.

Sim, é mais que o suficiente para o básico. Talvez eu possa fazer aquela viagem para a Inglaterra ao final de um ano ou mais de trabalho. Mas, não é nesse valor que está minha segurança. Não é na minha capacidade como profissional ou no poder de convencimento. Eu e tudo o que sou é do Senhor e é ele que me sustentará. É ele quem me dá o pão de cada dia e o sorvete do Bob’s.

Agradeço a Deus pela bondade e pela criatividade de me ensinar através de um pingado e pão de queijo. Que ele não deixe de me ensinar quando eu tiver mais ou quando eu tiver menos.

Autora: Tábata Mori

Fonte: http://blig.ig.com.br/


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