O Patriarca da Fé (parte 3)
12 de Abril/Segunda Feira

Duas nações

Segundo as escrituras, a fé e a obediência inabaláveis fizeram Abraão especial. "Para judeus, cristãos e muçulmanos, a fé é definida como a confiança incondicional em Deus. Nesse sentido, para as três religiões, Abraão é o modelo e a própria definição da fé. Essa característica faz dele o patriarca das três religiões que se originam de dois grandes povos", afirma Karl-Josef Kuschel. Segundo a tradição, Isaac deu início aos hebreus, e entre seus descendentes diretos estão o profeta Moisés, os reis Davi e Salomão e... Jesus Cristo. No Evangelho de Lucas, Maria, a mãe de Jesus, canta ao Senhor que "falou a nossos pais, a Abraão e a seus descendentes para sempre". Diz Kuschel: "Nos relatos dos Evangelhos, Jesus se posiciona como legítimo descendente da tradição de Abraão. Seus primeiros seguidores, em especial São Paulo, o chamam de pai. Depois, no século 4, ele é finalmente incorporado à teologia cristã por Santo Agostinho."

Já a origem dos árabes está ligada a Ismael. No século 7, um de seus descendentes diretos é chamado pelo anjo Gabriel (ou Jibril) para ouvir a recitação da mensagem de Alá. Durante 23 anos, o mercador Muhammad ibn Abdallah, ou Maomé, recebe e transmite para seus seguidores o Alcorão, que seria compilado nos anos seguintes à sua morte, em 632. Nas 114 suratas (capítulos) da versão final da obra, Abraão, ou Ibrahim, é mencionado 25 vezes. "O Alcorão acrescenta informações sobre ele, difundidas pela tradição oral judaica, e reinterpreta alguns aspectos de sua vida, em especial o papel de Ismael", diz John Vol, especialista em islamismo da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.

Para entender as histórias do texto sagrado muçulmano, é preciso retomar o contexto em que surgiram os hebreus. Depois que o Gênesis foi compilado, vários outros relatos orais surgiram para preencher as lacunas da vida de Abraão, em especial sua infância. Todos descrevem o patriarca como um monoteísta convicto, que luta contra a tradição politeísta de seu pai, Terá. Um desses relatos conta que a família tinha uma loja com várias estátuas de diferentes deuses. Certa vez, Abraão usa um machado para quebrar todas, exceto a maior. Chocado, o pai pergunta por que ele fez isso. O rapaz diz que os próprios deuses se destruíram lutando entre si, e que o vencedor foi o único que permaneceu intacto. Quando Terá afirma que as estátuas não seriam capazes de se mover, ele contra-argumenta: "Se esses deuses não são vivos, não faz sentido adorá-los".

Fonte:Revista Aventuras na História Related Posts with Thumbnails
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