09 de Abril/Sexta Feira
Há 4 mil anos, um homem fundou as bases das três grandes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Ao aderir a um único Deus, Abraão tornou-se o pai simbólico de 3,5 bilhões de fiéis
por Tiago Cordeiro
Das 6,8 bilhões de pessoas que habitam o planeta, cerca de 2 bilhões são cristãos. Aproximadamente 1,5 bilhão são muçulmanos e 15 milhões seguem os preceitos do judaísmo. Juntas, as denominações compõem a metade da população mundial. São também o pano de fundo de conflitos sangrentos há vários séculos. Para citar apenas dois: as cruzadas e os atentados de 11 de setembro de 2001. De certa forma, são brigas de família. As três grandes religiões monoteístas têm o mesmo pai. Um homem que vagou pelo Oriente Médio e pelo norte do Egito há 4 mil anos. Que optou por seguir um só Deus e cujos dois primeiros filhos fundaram dois povos: os hebreus e os árabes. Seu nome é Abraão. Sua descendência moldou o Ocidente e foi determinante para forjar o mundo tal qual o conhecemos.
O primeiro relato sobre ele está no Gênesis, que inicia a Torá judaica e a Bíblia cristã. Intérpretes do texto consideram que o patriarca era um pastor seminômade que viveu entre 2100 e 1800 a.C. Tribos costumavam circular entre as principais cidades da Mesopotâmia para vender o couro, o leite e a carne de seus rebanhos.
Não há provas da existência de Abraão. Várias gerações de arqueólogos reviraram, sem sucesso, as terras do Egito ao Irã. "A arqueologia não encontrou sinais dele nem de qualquer pessoa relacionada ao patriarca", afirma o americano Ron Hendel, professor de Estudos Judaicos da Universidade da Califórnia. A esta altura, isso pouco importa.
"A verdade desse relato não está em sua historicidade, mas no impacto sobre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo", diz Karl-Josef Kuschel, professor de Teologia da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
O Gênesis é uma edição das narrativas orais do povo hebreu, compiladas entre os séculos 7 a.C. e 5 a.C. "Os patriarcas representam os heróis do povo. Provavelmente são uma junção de diversas pessoas reais, reunidas em uma única personalidade a fim de criar um relato das origens dos hebreus", afirma o arqueólogo Israel Finkelstein, professor da Universidade de Tel Aviv. Apesar dos 1 500 anos que separam a autoria do texto dos tempos de Abraão, vários detalhes sobre o cotidiano da época são exatos - como o hábito de usar escravas para gerar descendentes, em caso de infertilidade da esposa.
Abraão ocupa 14 capítulos do texto. Quando sua história começa, ele já tem idade avançada. "A maioria dos personagens importantes da Bíblia é apresentada como criança. Jacó e Esaú brigam no ventre da mãe. Moisés é encontrado em um cesto no rio Nilo. Davi luta contra Golias. O patriarca tem 75 anos antes que qualquer coisa aconteça com ele", diz o escritor Bruce Feiler no livro Abraão - Uma Jornada ao Coração de Três Religiões. No primeiro capítulo do Genêsis a seu respeito, ele se chama Abrão, filho de Terá, casado com sua meia-irmã Sarai, dez anos mais nova. "Ele é a personificação do vazio: não tem infância nem descendentes", afirma Feiler. Um detalhe o diferencia: o pastor é a décima geração depois de Noé e a vigésima após Adão e Eva.
Pouco antes de morrer, Terá deixa a cidade natal de Abrão, que a escritura chama de Ur dos Caldeus, e se muda com a família para os arredores de Harã . Depois que Terá morre, com 205 anos (isso mesmo, os personagens da narrativa são extraordinariamente longevos), Deus determina novo rumo para a vida do pastor. O patriarca, que agora é responsável pelos negócios da família, ouve a voz de Javé, que promete: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome. Sê tu uma bênção". E Abrão se muda para Canaã com a esposa e o sobrinho, Ló.
Fonte: Revista Aventuras na História
Há 4 mil anos, um homem fundou as bases das três grandes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Ao aderir a um único Deus, Abraão tornou-se o pai simbólico de 3,5 bilhões de fiéis
por Tiago Cordeiro
Das 6,8 bilhões de pessoas que habitam o planeta, cerca de 2 bilhões são cristãos. Aproximadamente 1,5 bilhão são muçulmanos e 15 milhões seguem os preceitos do judaísmo. Juntas, as denominações compõem a metade da população mundial. São também o pano de fundo de conflitos sangrentos há vários séculos. Para citar apenas dois: as cruzadas e os atentados de 11 de setembro de 2001. De certa forma, são brigas de família. As três grandes religiões monoteístas têm o mesmo pai. Um homem que vagou pelo Oriente Médio e pelo norte do Egito há 4 mil anos. Que optou por seguir um só Deus e cujos dois primeiros filhos fundaram dois povos: os hebreus e os árabes. Seu nome é Abraão. Sua descendência moldou o Ocidente e foi determinante para forjar o mundo tal qual o conhecemos.
O primeiro relato sobre ele está no Gênesis, que inicia a Torá judaica e a Bíblia cristã. Intérpretes do texto consideram que o patriarca era um pastor seminômade que viveu entre 2100 e 1800 a.C. Tribos costumavam circular entre as principais cidades da Mesopotâmia para vender o couro, o leite e a carne de seus rebanhos.
Não há provas da existência de Abraão. Várias gerações de arqueólogos reviraram, sem sucesso, as terras do Egito ao Irã. "A arqueologia não encontrou sinais dele nem de qualquer pessoa relacionada ao patriarca", afirma o americano Ron Hendel, professor de Estudos Judaicos da Universidade da Califórnia. A esta altura, isso pouco importa.
"A verdade desse relato não está em sua historicidade, mas no impacto sobre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo", diz Karl-Josef Kuschel, professor de Teologia da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
O Gênesis é uma edição das narrativas orais do povo hebreu, compiladas entre os séculos 7 a.C. e 5 a.C. "Os patriarcas representam os heróis do povo. Provavelmente são uma junção de diversas pessoas reais, reunidas em uma única personalidade a fim de criar um relato das origens dos hebreus", afirma o arqueólogo Israel Finkelstein, professor da Universidade de Tel Aviv. Apesar dos 1 500 anos que separam a autoria do texto dos tempos de Abraão, vários detalhes sobre o cotidiano da época são exatos - como o hábito de usar escravas para gerar descendentes, em caso de infertilidade da esposa.
Abraão ocupa 14 capítulos do texto. Quando sua história começa, ele já tem idade avançada. "A maioria dos personagens importantes da Bíblia é apresentada como criança. Jacó e Esaú brigam no ventre da mãe. Moisés é encontrado em um cesto no rio Nilo. Davi luta contra Golias. O patriarca tem 75 anos antes que qualquer coisa aconteça com ele", diz o escritor Bruce Feiler no livro Abraão - Uma Jornada ao Coração de Três Religiões. No primeiro capítulo do Genêsis a seu respeito, ele se chama Abrão, filho de Terá, casado com sua meia-irmã Sarai, dez anos mais nova. "Ele é a personificação do vazio: não tem infância nem descendentes", afirma Feiler. Um detalhe o diferencia: o pastor é a décima geração depois de Noé e a vigésima após Adão e Eva.
Pouco antes de morrer, Terá deixa a cidade natal de Abrão, que a escritura chama de Ur dos Caldeus, e se muda com a família para os arredores de Harã . Depois que Terá morre, com 205 anos (isso mesmo, os personagens da narrativa são extraordinariamente longevos), Deus determina novo rumo para a vida do pastor. O patriarca, que agora é responsável pelos negócios da família, ouve a voz de Javé, que promete: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome. Sê tu uma bênção". E Abrão se muda para Canaã com a esposa e o sobrinho, Ló.
Fonte: Revista Aventuras na História
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