As azeitonas
Tábata Mori
Um ex-namorado meu -- que por acaso não gostava de azeitonas -- me contou a teoria das azeitonas. Essa teoria defende que pessoas que gostam de azeitonas encontram-se com pessoas que não gostam. Ou, mais ainda, nos faz acreditar que as pessoas no mundo são divididas em duas categorias: as que gostam de azeitonas e as que não gostam. E, em algum momento, essas pessoas se encontram e são felizes.
Sou do tipo que gosta -- e muito -- de azeitonas e descobri que sempre procurei alguém que não gostasse. Recentemente, estive pensando no porquê de uma pessoa tão legal como eu ainda estar sozinha. Descobri então que a culpa é das azeitonas!
Em algum período (longo) me lembro de ter pedido a Deus um cara que não gostasse de azeitonas e, também, que atendesse a “alguns” outros pré-requisitos. Certo dia, ouvi uma exposição “viajante” da carta de Paulo a Timóteo, feita pelo presidente da ABUB, Miranda, em que ele relacionou amor e serviço.
Miranda nos perguntou repetidas vezes o que buscávamos em nosso cônjuge. Que tipo de esposa ou esposo estávamos procurando. Embora não quisesse confessar, em minha mente eu respondia: “Um que não goste de azeitonas e atenda àquelas poucas exigências do meu ego”. Ele perguntou mais uma vez: Vocês procuram alguém para servi-los ou alguém a quem vocês possam amar? Alguém que atenda sua lista de exigências ou alguém a quem servir com seu amor?
Aquilo me incomodou. Logo eu que digo amar com facilidade e ser cheia de amor para dar, carregava comigo um desejo utilitarista. Queria alguém que contemplasse meu desejo, que me servisse com suas virtudes. Negro, alto, que não seja magro.
Inteligente, que converse sobre teatro, música e livros. Músico! Essas e muitas outras azeitonas me separavam de muitas pessoas interessantes que conheci.
Porém, ao contrário do que possa parecer, as palavras do Miranda não vieram condenar ou pesar e sim, aliviar, tirar de mim um peso que não sabia que carregava. As palavras tinham sabor de descanso. Meu desejo deveria ser alguém para amar. Para dar todo o amor que tinha e que ainda não havia completamente explorado e experimentado.

“Senhor, quero alguém para amar”. Que mudança de foco! Desde então, tento me desfazer da pequena lista de pré-requisitos. Procuro um loiro ou negro, poeta ou engenheiro, músico ou não. Procuro alguém a quem eu possa servir com o meu amor. Alguém para, simplesmente, amar. E, caso a teoria esteja certa, ele não vai gostar de azeitonas.
• Tábata Mori, 29 anos, jornalista e poetisa, é assistente de comunicação da Rede Mãos Dadas. http://blig.ig.com.br/ex_pressao
*Fonte:Site da Revista Ultimato