A dor.
Ricardo Gondim.
Maria acordou com um urro do marido. O homem gritava tão alto que toda vizinhança ouviu. Seus gritos eram agoniados. A mulher se assombrou ainda mais quando o marido não conseguiu articular nenhuma frase, apenas se contorcendo.
Maria se voltou e viu que a barriga do marido estava redonda e enorme. Agora ela gritou espantada porque tocou no ventre do marido e o sentiu pulsando. Ao encostar o ouvido, percebeu que dois corações batiam dentro dele.
Nesse instante, Maria ouviu rumores no jardim. Correu até a janela e, pelas frestas, se deparou com uma pequena multidão aglomerada. Indignada, escancarou as duas bandas da janela, indagando o que queriam. Uma senhora idosa falou em nome do grupo que gostariam de ajudar. Sendo amigos, não podiam ficar indiferentes.
Mais calma, Maria desatou a chorar. A barriga do homem continuava enorme, prestes a explodir. Tudo acontecera tão de repente e ela não sabia o que fazer. Fez-se um silêncio constrangedor. O choro do homem ressoou mais alto pelo jardim. Uma velha aconselhou que chamassem o Prior Simeão. Ele já havia curado um caso parecido.
Quando o Prior Simeão entrou no quarto, se espantou com a dor daquele pobre homem. Assim que o auscultou, sentenciou que realmente estava grávido e nada se poderia fazer. Recomendou, então, que esperassem até o anoitecer e abruptamente saiu.
O marido continuou chorando e gemendo o dia inteiro. À noite, aos poucos, pegou no sono. Assim que o dia clareou, Maria correu até a cama. O marido sequer abrira os olhos, a barriga, porém, voltara ao normal.
A mesma multidão já havia se juntado ao redor da casa para saber as notícias. A mulher anunciou que o marido estava bem. O Prior Simeão tinha razão: Um homem só precisa de uma noite para parir os seus sonhos.
Soli Deo Gloria.
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